domingo, 27 de março de 2011

Um belo poema!

Escher
"olho muito tempo o corpo de um poema"

Ana Cristina Cesar


olho muito tempo o corpo de um poema

até perder de vista o que não seja corpo

e sentir separado dentre os dentes

um filete de sangue

nas gengivas

domingo, 13 de março de 2011

Tudo é mar!


Beira-mar
Cecília Meireles

Sou moradora das areias,
de altas espumas: os navios
passam pelas minhas janelas
como o sangue nas minhas veias,
como os peixinhos nos rios...

Não têm velas e têm velas;
e o mar tem e não tem sereias;
e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para omar foi fadada.

Deus te proteja, Cecília,
que tudo é mar - e mais nada.