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sábado, 20 de agosto de 2011

Saudade...





Profundamente
Manuel Bandeira


Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da note despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Por que adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônia Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos?
- Estão dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

sábado, 2 de outubro de 2010

À minha filha...


Canção do vento e da minha vida
Manuel Bandeira

O vento varria as folhas,
o vento varria os frutos,
o vento varria as flores...

E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes,
o vento varria as músicas,
o vento varria os aromas...

E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
e varria as amizades...
o vento varria as mulheres.

E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de afetos e de mulheres.

O vento varria os meses
e varria os teus sorrisos...
o vento varria tudo!

E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de tudo.

sábado, 3 de julho de 2010

Ah! Pasárgada...

Imagem de Tom Sierak
Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Para ouvir o poema, por Manuel Bandeira http://www.youtube.com/watch?v=cJzFs24HPPc

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Saudades!!!

(São João, Pintura de Di Cavalcanti)

Profundamente
Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de
Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes e risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo.
Profundamente.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Então?! É Natal!



Versos de Natal
Manuel Bandeira

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera de Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.


Manuel Bandeira reflete bem essa oposição entre o físico e o espiritual, entre a aparência e a essência. Acho que a proximidade do Natal faz com que pensemos sobre o que somos, o que fomos e o que queremos ser um dia... Mais do que isso, faz com olhemos para dentro de nós mesmos para que possamos encontrar a essência que muitas vezes se perde nos espelhos da vida...
Aproveitem a leitura!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lágrimas de crocodilo

O choro do poeta


TERESA
Manuel Bandeira
Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA
Uma grande ironia de um grande poeta. Manuel Bandeira sabe o que diz: homem que se descabela por mulher... Um conselho irônico de um homem que talvez chore por Teresa e, na verdade quer afastar um possível candidato a esta mulher, que, bem romântico, se declara a ela. Acho que ele ama Teresa e, como é tímido ou até "seco", tenha dificuldade de dizer que a ama da maneira que ela gostaria que fosse dito... não sei...

terça-feira, 14 de julho de 2009

As profundidades tranquilas



O rio
Manuel Bandeira

Ser como o rio que deflui
silencioso dentro da noite
não termer as trevas da noite
se há estrelas nos céus, refleti-las.

E se os céus se pejam de nuvens,
como o rio as nuvens são água,
refleti-las também sem mágoa
nas profundidades tranquilas.