sábado, 14 de junho de 2014

Amor: a profundidade dos gestos simples!

FREDERICK KAEMMERER 
Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos e esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio d quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia reunida".

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Tempo, tempo, tempo, tempo...


Mais uma poesia noturna, de Pereira da Silva.

Reflexões

I

Que é nossa vida para a eternidade?
O átomo de um dia.
Dois instantes: - o da natividade
E o da última agonia.

II

Olhando essa extensão indefinida,
Este círculo ambiente,
Que espaço humano ocupa a nossa vida?
Sete palmos somente...

III

E, por tão pouco, por que prova rude
Passa o homem mais forte,
Para se libertar dessa inquietude
Pelas portas da morte!

(Pereira da Silva)