quarta-feira, 29 de julho de 2009

A fugacidade do tempo

O tempo, Salvador Dali.
Ah, o tempo... Quando olhamos o agora, ele não parece conosco. O tempo muda tudo e quando percebemos não o aproveitamos como deveríamos. Esse tema é bastante caro aos poetas, aos artistas, porque fala do que é humano.


SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógio.
Seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)

terça-feira, 21 de julho de 2009

É preciso caminhar, sempre...

O pintor a caminho do trabalho, de Van Gogh.


Canção do carreiro


Dia claro,
vento sereno,
roda, meu carro,
que o mundo é pequeno.

Quem veio para esta vida,
tem de ir sempre de aventura:
uma vez para a alegria,
três vezes para a amargura.

Dia claro,
vento marinho,
roda, meu carro,
que é curto o caminho.

Riquezas levo comigo.
Impossível escondê-las:
beijei meu corpo nos rios,
dormi coberto de estrelas.

Dia claro,
vento do monte,
roda, meu carro,
que é perto o horizonte.

Na verdade, o chão tem pedras,
mas o tempo vence tudo.
Com águas e vento quebra-as
em areias de veludo...

Dia claro,
vento parado,
roda, meu carro,
para qualquer lado.

Riquezas comigo levo.
Impossível encobri-las:
troquei conversas com o eco
e amei nuvens intranquilas.

Dia claro,
de onde e de quando?
Roda, meu carro,
pois vamos rodando...

Cecília Meireles(1901 - 1964)
In: VIAGEM E VAGA MÚSICA (1942)

terça-feira, 14 de julho de 2009

As profundidades tranquilas



O rio
Manuel Bandeira

Ser como o rio que deflui
silencioso dentro da noite
não termer as trevas da noite
se há estrelas nos céus, refleti-las.

E se os céus se pejam de nuvens,
como o rio as nuvens são água,
refleti-las também sem mágoa
nas profundidades tranquilas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Em seu livro "Cantáteis: cantos elegíacos de amozade", o autor Chico César trata do ser poeta, do amor e do amar... São estrofes belas, no estilo original do autor. Seguem algumas estrofes para sentirmos, nesses versos populares, o espírito dos amantes, no qual todos nos enquadramos....

Estrife 36
toma este esparadrapo
que o cavaleiro guapo
já não tem mais cicatriz
cabra marcado com um xix
pra morrer de paixoneira
numa bela quinta-feira
logo depois do almoço
ora, a morte é um poço
um buraco infinito
de fundo falso esquisito
gozo lodo lasso fosso

73
há tortuosos caminhos
na roseira tem espinhos
no leite repousa a mosca
mas eu sei não é de rosca
a natureza do amor
o poder e o pudor
frutos da mesma maniva
tenho sede da saliva
que escorre de sua língua
não quero morrer à mingua
cantai dadivosa diva

84
amor, quando amor se acaba
reina o silêncio na taba
na guera o cessar-fogo
quando morre o jogador
assim é como o amor
terminal, rodoviário
parado parasitário
na beira da auto-estrada
feito a carniça sagrada
boiando no planetário