Canção do carreiro
Dia claro,
vento sereno,
roda, meu carro,
que o mundo é pequeno.
Quem veio para esta vida,
tem de ir sempre de aventura:
uma vez para a alegria,
três vezes para a amargura.
Dia claro,
vento marinho,
roda, meu carro,
que é curto o caminho.
Riquezas levo comigo.
Impossível escondê-las:
beijei meu corpo nos rios,
dormi coberto de estrelas.
Dia claro,
vento do monte,
roda, meu carro,
que é perto o horizonte.
Na verdade, o chão tem pedras,
mas o tempo vence tudo.
Com águas e vento quebra-as
em areias de veludo...
Dia claro,
vento parado,
roda, meu carro,
para qualquer lado.
Riquezas comigo levo.
Impossível encobri-las:
troquei conversas com o eco
e amei nuvens intranquilas.
Dia claro,
de onde e de quando?
Roda, meu carro,
pois vamos rodando...
Cecília Meireles(1901 - 1964)
In: VIAGEM E VAGA MÚSICA (1942)
parabens pelo blog ta muito lindo.
ResponderExcluir