quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um olhar sobre o Brasil

O descobrimento, Cândido Portinari

Canto de regresso à pátria
Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá

Minha terra tem mais terra
e quase que mais amores
minha terra tem mais ouro
minha terra tem mais terra
ouro terra amor e rosas
eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra
sem que eu volte pra São Paulo
sem que eu veja a rua 15
e o progresso de São Paulo


São vários os olhares poéticos sobre o Brasil. Oswald de Andrade, por pertencer a um movimento de revisão crítica do nacionalismo, nos escreve esse belíssimo poema parodiando a famosa "Canção do exílio", de Gonçalves Dias.
Vamos olhar o Brasil, vamos conhecer o Brasil?!

domingo, 20 de setembro de 2009

Palavras: uma forma de libertação?


Romanceiro da Inconfidência

Romance LIII ou
Das palavras aéreas

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois do vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!

Sois do vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...



A poetisa Cecília Meireles escreve com muita sensibilidade sobre o poder das palavras, o poder da própria poesia ao relembrar um período importante da nossa história: A inconfidência Mineira (século XVIII). Espero que gostem desses versos...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia"

Barreira da Praia do Cabo Branco,
Priscila Holanda
João Pessoa- PB.
Óleo sobre tela 50 x 70

O poema "Duas vezes não se faz" é do artísta plástico e poeta paraibano Hermano José. Conheci esse poema quando assisti ao documentário, que leva o mesmo nome do poema, do cineasta Marcus Villar, também paraibano. Esse documentário retrata toda a degradação da Barreira do Cabo Branco, que tem como título O Ponto Oriental das Américas, lugar de beleza natural e um grande cartão postal da cidade de João Pessoa, que vem sofrendo pelas mãos dos homens e da própria natureza.
O poema é um belo retrato triste da certeza de que aquilo que se destrói não se tem, não se vê novamente, por que duas vezes não se faz a beleza, o amor, a natureza, o ser humano... - todas esses elementos são únicos, insubstituíveis.
É um belo poema que desejo compartilhar com vocês.

DUAS VEZES NÃO SE FAZ
Poema de Hermano José

Não se faz o mundo duas vezes:
Duas vezes a Lua.
Duas vezes o Mar.

Não se faz duas vezes;
A inclinação do Cruzeiro do Sul,
A rotação diversas dos Astros
A luz solar riscando madrugadas,
Crepúsculos incendiados
Para o sono dos pássaros.

Duas vezes não se fará:
O rumor das ondas
Por cima de caranguejos translúcidos.
Chuvas tropicais
Resvalando em rios caudalosos,
Pororocas noturnas,
Revolvendo assombrações
Mas, se fará:
Negras espumas de óleo subterrâneos
Nuvens asfixiantes em horas imprevisíveis,
Mortos mares naufragados em detritos,
Desertos de verdes calcinados,
Terra desfigurada de pólo a pólo.
Terra inútil
Túmulo rejeitado
De fracasso humano.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A poesia em pequenos versos

Vou postar hoje alguns pequenos poemas de um grande amigo: um poeta, professor, ator, na verdade, um verdadeiro artista... O livro acabou de ser publicado, chama-se "O mínimo possível" e reúne pequenos versos em tamanho, pois são grandes em expressão e humor-poético. O poeta é Adriano Cabral. Espero que os que leem esse blog apreciem essa poesia em pequenos versos...

Poesia já! (25)

Não basta apenas
Declamar mais poemas
É preciso reclamar mais poesia

Eu: pássaro em mim (34)

Na Grande Gaiola Invisível
Estou preso à ilusão
De que sou livre

O essencial (38)

Não me interessa
A cor dos olhos
Mas a beleza do olhar